É a primeira vez que a Netflix, maior e mais consolidado player do setor de streaming pago, se move concretamente na adoção de um modelo de AVOD, e esse fato é importante por si só. Outras OTTs pagas já haviam anunciado projetos nessa direção, mas a Netflix segue sendo a grande criadora de tendências desse mercado, e sua decisão força toda a cadeia a olhar para essa possibilidade.
Em segundo lugar, a introdução de um player nativo da área de tecnologia (e não de conteúdo) em um arranjo horizontal para viabilizar o serviço significa que outros players que somente produzem e disponibilizam conteúdo poderiam passar a contratar uma solução tecnológica agnóstica, e a Microsoft tem capilaridade e capacidade de execução globais capazes de efetivamente cobrir esse mercado em escala.
A monetização do streaming via anúncios, apesar de ser tendência com o FAST (sigla para free ad-supported Streaming TV), só se provou como negócio realmente grande até hoje em modelos de conteúdo gerado por usuários (UGC content) como o YouTube.
No setor de produção profissional de conteúdo em escala, o modelo continua sendo uma aposta, e veremos se traz dinheiro em volumes suficiente para sustentar o tier de entrada sem canibalizar demais os tiers mais caros.
FAST, que, entre todos os players nos EUA, teve receita estimada de 2,8 bilhões de dólares em 2021 com publicidade, e Netflix/Microsoft serão provavelmente os grandes balões de ensaio para provar a hipótese.
Por fim, vale lembrar também uma externalidade positiva para a Microsoft e seu business de games. Com a parceria, a Microsoft deve aumentar substancialmente sua atratividade para anunciantes em todos os países do mundo que tenham interesse em associar sua marca a conteúdos audiovisuais, e fica muito bem posicionada para expandir esse mesmo modelo para a arena de games, lembrando que Netflix também declaradamente se interessa por esse mercado. É possível que esse movimento seja outro tijolo na construção da convergência das mídias audiovisuais.