Paulo Muppet, sócio-fundador da Birdo, revela processo de internacionalização do estúdio

Luciana Eguti e Paulo Muppet (Foto: Divulgação)

Paulo Muppet, sócio-fundador da Birdo e animador autodidata, apresentou um painel sobre o processo de internacionalização do estúdio nesta sexta-feira, dia 22 de março, no Lanterna Film Market – área de mercado do Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação, que acontece em Goiânia (GO) até domingo, 24. 

A história do estúdio começa em 2005, com ele e a sócia Luciana Eguti, que eram amigos e trabalhavam juntos em uma produtora de projetos para Internet. Os dois gostavam de produzir animação de personagens e decidiram abrir um estúdio justamente para ampliar as possibilidades de trabalho nessa área. Durante quase uma década, a dupla tocou o estúdio sozinha, e produziu principalmente curtas-metragens: foram vários, como "Aquele Cara" (2005), com direção de Rafa Coutinho, filho de Laerte; "Tyger" (2006), de Guilherme Marcondes; e "Monkey Joy" (2008), de Amir Admoni. 

A primeira contemplação num edital aconteceu em 2011, com o curta "Caixa", escrito por Eguti, em uma chamada específica de temática ambiental. No ano seguinte, um outro projeto de curta foi contemplado no mesmo edital – "Escalada", de Muppet, que tinha como temática o consumo sustentável. "O curta-metragem foi a melhor escola que poderíamos ter tido, porque ele te permite passar por todas as etapas de produção de um filme. Trabalhamos com curtas por uma década para nos capacitar", afirmou o produtor. Na mesma época, a Birdo também produziu diversos videoclipes, como "Pode Acreditar" (2006), de Marcelo D2, e "Bonequinha do Papai" (2010), do Pequeno Cidadão. 

"Nesse começo do estúdio, fazíamos nossa própria assessoria de imprensa, olhando inclusive para o mercado de fora. Toda vez que completávamos um trabalho, mandávamos e-mails para os blogs internacionais que cobriam animação. Quando eles publicavam, sentíamos na hora uma resposta muito boa. E isso nos ajudava a conseguir novos trabalhos", contou. O primeiro projeto internacional foi "Mobsquad". Era uma série adolescente, "politicamente incorreta e com muita violência gratuita", segundo Muppet. Foram 13 episódios, exibidos pela MTV Asia em sete países em 2006/2007 e patrocinada pela Motorola. 

Novo patamar 

A virada de chave da Birdo se deu em 2014, com a abertura de um concurso para a criação dos mascotes dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. O estúdio venceu – após votação popular na fase final – e assinou a ilustração dos mascotes. Na sequência, veio a oportunidade de produzir uma série animada desses mesmos personagens, batizados de Vinicius e Tom, para exibição no Cartoon Network. Com o conceito "o esporte através da brincadeira", "Vinicius e Tom – Divertidos por Natureza" foi a série mais vista do canal em 2016. Com a encomenda dos episódios pelo Cartoon, a Birdo precisou crescer sua equipe, que passou de seis para 25 pessoas. 

A partir daí, a empresa começou a produzir cada vez mais projetos de série, como "Oswaldo", uma criação de Pedro Eboli, que estreou no Cartoon em 2017, foi exibida também pela TV Cultura e atualmente está disponível na Max. A série contou com recursos do edital Anima Cultura, do FSA, que financiou os primeiros 13 episódios. Os outros, de um total de 52, foram feitos em coprodução com a Índia. O produto viajou bem – por países como França, Canadá, Itália e Reino Unido – e até hoje tem um distribuidor inglês, que continua trabalhando nessas vendas. Mas a história não é exatamente um case de sucesso. "Com 'Oswaldo', cometemos todos os erros possíveis – de prazos, orçamentos. O primeiro episódio levou mais de seis meses para fazer. Descobrimos que não estávamos preparados ainda para uma série episódios de 11 minutos de duração. Mas, depois desse projeto, passamos a estar", revelou Muppet. "Série de animação é um investimento de risco: são necessárias muitas temporadas para conseguir pagar a primeira. Temporadas novas trazem mais venda para as anteriores. Projetos como 'Oswaldo', de uma única temporada, sofrem para recuperar o investimento. Ainda não recuperamos o que gastamos para produzir essa série. Não tivemos 100% do financiamento garantido para novos episódios e decidimos não arriscar", explicou. 

Projetos originais 

A Birdo ainda trabalhou bastante com a distribuidora canadense Entertainment One, em projetos como "So So Happy", "Skelanimal's" e "Cupcake e Dino" – esta, do mesmo criador de "Oswaldo". Na época, o Brasil tinha editais específicos de coprodução Brasil-Canadá, então foi mais simples acessar o financiamento para as produções. "Cupacke e Dino", uma criação de Pedro Eboli com direção, design, storyboard e cenários da Birdo, estreou em 2018, foi bem de reconhecimento da crítica e audiência e hoje está disponível em plataformas de streaming e canais pagos em diferentes países. No Brasil, pode ser vista na Netflix. 

A lista de projetos segue com "Ninjin", um original do estúdio em coprodução com o Cartoon Network; e "Clube da Anittinha", o primeiro trabalho deles voltado para o público pré-escolar. A série do Gloob teve 62 episódios, criados, escritos e produzidos pela Birdo para o canal, que detém os direitos da propriedade. A série tem um canal no YouTube com 790 mil inscritos. Mais recentemente, "Ba Da Bean", novamente uma criação de Eboli, desta vez em parceria com Carina Schulze, foi lançada no Discovery em 2021 e hoje está disponível no discovery+ e na Max e tem alguns horários de exibição na grade do Discovery Kids. 

Próximos planos 

No momento, a Birdo está produzindo "Lupi e Baduki", uma criação de Reynaldo Marchesini, produtor executivo e roteirista da produtora de conteúdo infantil Flamma, para o Cartoon Network. A série, que conta a história de uma loba guará e um bicho-preguiça que são irmãos e diferentes entre si, já foi finalizada e deve estrear em breve. O público-alvo são crianças de seis a nove anos. 

Para além das produções originais ou coproduções, a Birdo também trabalha com prestação de serviços de animação. Entre os projetos desse tipo que assina, estão as séries "O Menino Maluquinho", da Chatrone (que coproduziu "Ba Da Bean" com eles), indicada ao Emmy 2023 no segmento "Melhor Animação Infantil"; "Papaya Bull", para a Nickelodeon; e "Star Wars – Forces of Destiny", disponível no Disney+. E nesse sentido, as novidades são "O Astronauta" – a Birdo já finalizou a produção da série inspirada no personagem de Mauricio de Sousa, voltada para o público adulto, que estreia este ano na Max – e "Aztec Batman: Clash of Empires", longa-metragem para TV coproduzido pela Warner Bros. Animation, DC Comics e Chatrone. "Nos últimos dez anos, sempre tivemos pelo menos um projeto original e uma prestação de serviço acontecendo simultaneamente no estúdio", ressaltou Muppet. 

E para o futuro, a Birdo está desenvolvendo o longa "Arlindo", baseado no quadrinho homônimo da ilustradora potiguar Luiza Souza – trata-se de um romance LGBT que se passa em uma cidade conservadora do interior do Rio Grande do Norte. Souza está escrevendo o roteiro junto de Rafael Gomes. Outro projeto é a comédia "Flora", sobre uma semente que não sabe o que vai ser quando crescer. Para o primeiro projeto, o estúdio atualmente está tentando levantar financiamento. Para o segundo, está atrás de coprodutores internacionais e canais. 

Análise de mercado 

Analisando a trajetória do estúdio até aqui, Muppet pontua: "Se tem algo que eu faria diferente, é jamais ter começado um projeto antes de ter seu financiamento 100% garantido. Foi uma lição aprendida e um erro que não queremos mais cometer". 

E olhando para o mercado como um todo, avalia: "Nós perdemos o direito de propriedade da grande maioria das nossas produções originais – a única exceção é 'Oswaldo'. Perdemos para os financiadores – o que é justo, mas é triste que não tenhamos a capacidade de levantar o financiamento por conta própria. Esse é o modelo que tem pautado a produção audiovisual brasileira, tanto animação quanto live-action, desde que as plataformas de streaming chegaram. Isso aconteceu com o mercado todo: nós perdemos a propriedade em troca do financiamento pelos players". 

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