O CiscoLive 2014, evento anual da Cisco para clientes, parceiros e imprensa que aconteceu essa semana em São Francisco, na Califórnia, serviu para mostrar os contornos da nova estratégia da fabricante para sobreviver ao que seu chairman e CEO, John Chambers, classificou como um cenário brutal de consolidação das empresas de tecnologia em face da nova onda de transformações do mercado causada pela tendência de serviços em nuvem, redes definidas por software e a Internet das Coisas (IoT).
Em seu painel no primeiro dia do evento, Chambers foi enfático: "Das empresas líderes da indústria, a maioria delas não existirá de forma significativa em dez anos. Veremos uma consolidação brutal da indústria de TI onde dos cinco maiores players, apenas dois ou três de nós continuarão a ser relevantes em cinco anos", estima. Em sua apresentação, Chambers sugere que as cinco maiores empresas seriam IBM, HP, Microsoft e Oracle, além da própria Cisco, e, embora não tenha dito quem desaparecerá, ele apontou que HP e IBM não conseguem aumentar suas receitas há 2,5 anos. Depois, em conversa com jornalistas, Chambers reforçou: "Em termos de consolidação da indústria, já vi esse filme. Grandes companhias, muito, muito boas, mas perderam as transições de mercado. Realmente acho que sobrarão apenas dois ou três dos top 5. E não está garantido que a Cisco será um deles. Temos de mudar para que isso aconteça."
O ponto central é que, segundo o CEO, crescer como em anos anteriores não será tarefa nada fácil frente às rápidas mudanças na economia e nos mercados. Também estão mudando os modelos de negócio, de modo que a inovação tem de acontecer rapidamente e as mudanças em TI têm de acompanhar no mesmo passo.
Para conseguir sobreviver à onda de consolidações, Chambers aposta no mercado potencial de US$ 19 trilhões que pode ser explorado com a Internet das coisas, ou "de todas as coisas" (Internet of Everything), como a Cisco tem chamado o mercado de cerca de 50 bilhões de dispositivos que deverão estar conectados em 2020. E o caminho seria acelerar a transição da Cisco para além do hardware (que tende a se tornar uma commodity). "Somos software, hardware, ASICs (circuitos integrados para aplicações) e nuvem enquanto continuamos avançando", disse. "O conceito simples, quando se avança com a Internet de todas as coisas, é que se tem de ter a informação correta no tempo certo para um determinado dispositivo de uma pessoa específica para que possa tomar a decisão acertada. Parece simples, mas é muito, muito difícil de se fazer e é quase impossível de se conseguir sem as nossas arquiteturas e tecnologia", enfatiza.
InterCloud
A estratégia da Cisco começa pela aposta numa nuvem híbrida, que integra ofertas de serviços de cloud públicos com cloud privada. "É modelo que aproveita as vantagens da flexibilidade e da escala da nuvem pública (de provedores como Amazon, Google e Microsoft) e ajuda a controlar e dar a segurança necessária em uma economia globalizada com a nuvem privada. É um equilíbrio entre os dois modelos”, explica o presidente de desenvolvimento e vendas da Cisco, Rob Lloyd. Mas mais que isso, "a ideia é construir, através de parcerias com outras empresas, um ecossistema de cloud que funcione como um tecido para integrar as diferentes soluções através de APIs (application programming interface), acelerando a adoção de serviços em nuvem e que se tornará a plataforma para a Internet de todas as coisas", explica Lloyde.
A Cisco está chamando esse ecossistema de InterCloud Fabric e já tem como parceiros a operadora australiana Telstra, a Accenture, NetApp, Dimension Data, Sugard Availability Services, VCE, Johnson Controls, Symantec e até mesmo a brasileira UOLDiveo. Além da nuvem, há ainda a aposta na virtualização das redes de comunicação com a evolução para software defined networks (SDN), conceito que está incluído na estratégia de Application Centric Infraestructure (ACI), ou infraestrutura centrada em aplicações.
Segundo Chambers, a fornecedora "voltará a se concentrar na construção de arquiteturas completas para empresas e governos através de software e serviços como InterCloud", com foco em soluções de cloud, mobilidade e segurança.
"É uma estratégia que ainda estamos desenhando, agregando parceiros, mas acredito que as primeiras soluções estarão chegando no mercado até o final do trimestre”, conta. De acordo com Lloyd, a Cisco investirá US$ 1 bilhão para desenvolvimento de sua InterCloud nos próximos dois anos.
Fog computing
Outra proposta da Cisco é que, como virtualmente qualquer objeto poderá ter sensores integrados e conectados em rede, a quantidade de dados a ser analisada será massiva e, para algumas aplicações, como semáforos inteligentes, precisará ser processada em tempo real. E nesses casos, se os dados necessitarem ser transportados para análise em um data center que pode estar localizado um pouco mais distante, é possível que o processamento não ocorra no tempo necessário.
Assim, o que a Cisco propõe é que esses dados comecem a ser analisados e processados próximo desses sensores, ainda em equipamentos distribuídos pela rede, como roteadores. "Dessa forma, apenas os dados que realmente precisam ser considerados, valores que fogem de um parâmetro e requerem uma ação, precisam realmente ser enviados a um data center", explica Lloyd.
*A convite da Cisco.