Paula Gomes, da Olhar Distribuição, participou do primeiro dia do Ambiente de Mercado do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado nesta segunda, 25, falando sobre o processo de lançamento e distribuição do longa-metragem queniano "Rafiki", da diretora Wanuri Kahiu. O filme, que é uma coprodução com África do Sul, Alemanha, Holanda, França, Noruega, Líbano e Reino Unido, estreou no circuito nacional em agosto deste ano.
A Olhar, que até então só tinha trabalhado com longas nacionais, distribuiu "Rafiki" em uma parceria com a distribuidora maranhense Ipecine – representantes da empresa estavam no Festival de Cannes quando o filme foi exibido por lá, como parte da Mostra Un Certain Regard, em 2018, e desenvolveram a negociação. De volta ao Brasil, a distribuidora então firmou a parceria de co-distribuição com a Olhar. "Rafiki" foi o primeiro longa metragem queniano a ser exibido no Festival de Cannes, onde foi ovacionado e bem recebido pela crítica internacional. Mais tarde, ele ganhou 16 prêmios em festivais de cinema ao redor do mundo, fazendo ainda bons números de bilheteria nos Estados Unidos (137 mil), Holanda (38 mil) e África do Sul (4 mil).
"A Olhar se identifica com filmes com temáticas que mobilizem a sociedade, por isso nos interessamos pelo projeto", disse Paula Gomes. "No Brasil, cuidamos não só da distribuição do longa, mas também de sua divulgação, buscando a mobilização e a distribuição de impacto, isto é, indo até o público", completa. Nesse sentido, Gomes apresentou a campanha promocional "Direito de Amar", criada pela distribuidora para promover o filme no país. "O mote da campanha surgiu a partir da premissa de que todo mundo é humano e, por isso, tem o direito de amar quem quiser. Com esse foco, trabalhamos o tema de forma abrangente, mas sem perder o ativismo dentro disso. Nosso papel era fazer com que a audiência soubesse da existência do filme e onde assisti-lo. Nosso trabalho não contou com agência de publicidade; Desenvolvemos toda a campanha na própria Olhar e o valor investido foi de aproximadamente 40 mil reais", revelou.
No ambiente digital, os resultados foram positivos: 1,2 milhões de pessoas alcançadas no Facebook, sendo 73% de mulheres. O retorno físico também foi considerado relevante para a distribuidora: foram oito semanas consecutivas em cartaz – com 11 salas na primeira semana e 19 na segunda – e um público de cerca de 6500 pagantes. A sala que mais recebeu espectadores para "Rafiki" foi a do Frei Caneca, em São Paulo, seguida pelo Cine Banguê, em João Pessoa. "Investimos ainda em engajamento do público e, com isso, conseguimos mobilizar nacionalmente 45 coletivos – de negras, negras lésbicas, lésbicas – e realizar 11 sessões seguidas de debate. A média de público em cada sessão foi de 50 espectadores, o que significa que impactamos ao menos 500 pessoas", comemora a produtora. A renda líquida do filme no Brasil foi de R$59 mil.
No Brasil, a distribuidora firmou ainda uma parceria com o Telecine, que licenciou a obra. No acordo, a Olhar coloca a marca do Telecine nas peças e no filme e, em contrapartida, o hub de cinema dá espaço de mídia no canal e nas redes sociais. Com a rede Cinépolis, que promoveu sessões do longa, também houve um acordo de mídia cruzada.
Os próximos passos para "Rafiki" são, portanto, a exibição pelo canal Telecine e também pela plataforma Telecine Play. Outra janela é a Mostra de Cinemas Africanos, que teve início em São Paulo em julho deste ano mas é itinerante, então seguirá exibindo o longa pelo país. "Queremos promover ainda sessões gratuitas com coletivos em cidades onde o filme não chegou a entrar em cartaz", conta Gomes.
Proibição no Quênia
Na trama de "Rafiki", Kena e Ziki, criadas para serem boas esposas e mães, anseiam por algo mais. Apesar da rivalidade política entre suas famílias, as garotas resistem e continuam sendo amigas próximas, apoiando-se mutuamente para perseguir seus sonhos em uma sociedade conservadora. Quando o amor floresce entre elas, as duas são forçadas a escolher entre felicidade e segurança. A direção é de Wanuri Kahiu, que faz parte de um movimento chamado Afrobubblegum – a iniciativa apoia, cria e comissiona uma arte africana "divertida, feroz e fantástica", que retrate africanos que são saudáveis, estáveis financeiramente e se divertem.
"Rafiki" teve sua exibição proibida no Quênia por trazer uma temática LGBTQ – o Quênia tem uma legislação extremamente conservadora em relação aos direitos dos homossexuais, sendo que as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são penalizadas pelas leis quenianas e a homossexualidade é considerada ilegal. Na ocasião, o Comitê de Classificação de Filmes do país chegou a dizer que ele poderia ter sido aceito caso as personagens demonstrassem remorso por seus atos no final. "Qualquer tentativa de introduzir e de normalizar a homossexualidade no Quênia vai contra a legislação e a Constituição e isso deve ser vetado", declarou o Comitê.