Autor de livros, Raphael Montes cresce no audiovisual e irá dirigir primeiro filme solo

Raphael Montes apresenta "Uma Família Feliz" em Gramado (Foto: Cleiton Thiele/ Agência Pressphoto)

Raphael Montes é um dos nomes mais promissores do audiovisual nacional da atualidade. Ele construiu sua carreira inicialmente como escritor de histórias de suspense, crime e terror. Escreveu os romances "Suicidas", "Dias Perfeitos", "O Vilarejo", "Jantar Secreto", "Uma Mulher no Escuro", "A Mágica Mortal" e "Bom Dia, Verônica" – este, ganhou uma adaptação audiovisual e virou série da Netflix, com duas temporadas lançadas e uma terceira já confirmada. A série, da qual Montes é criador, roteirista-chefe e produtor-executivo, foi vencedora do prêmio APCA de 2020. Ele também assina essas três funções em "Beleza Fatal", primeira novela da HBO Max. Com direção de Maria de Médicis, a novela terá 40 capítulos e contará uma história de busca por justiça no agitado mundo da beleza e dos tratamentos estéticos. "Beleza Fatal" ainda não tem data de lançamento prevista. 

"Sempre me enxerguei como alguém que conta histórias, e eu comecei pela literatura porque foi e ainda é minha grande paixão. Sou um leitor voraz, e também tem o fato de que, para ser escritor, precisa de pouco: um computador ou um papel e você já pode contar sua história. Por isso a literatura foi a primeira maneira que encontrei. Felizmente, com o sucesso dos livros, passei a ser convidado para escrever para televisão e cinema. Eu já queria fazer isso, não tinha feito antes porque não conhecia ninguém do mercado. Eu topei pelo desafio e também pelo interesse entender quais são as diferenças – e são muitas. Literatura, cinema e televisão são três artes completamente distintas, e me interessam muito os desafios e aspectos de cada uma delas", contou Montes em entrevista para TELA VIVA. 

Apesar dos projetos do escritor no audiovisual estarem em alta nos últimos anos, seu trabalho na área começou em 2015, como colaborador da novela "A Regra do Jogo", da TV Globo. Ele também assinou como roteirista da série policial "Espinosa", do GNT, e "Supermax", também da Globo. Em longas-metragens, ele trabalhou como co-roteirista de "Praça Paris", da diretora Lucia Murat, de 2017, e de "A menina que matou os pais" e "O menino que matou meus pais", do diretor Maurício Eça, de 2020. No streaming, além de "Bom Dia, Verônica", Montes assinou como co-criador e co-roteirista de "Tá Tudo Certo", série jovem original do Disney+

Estreia no cinema

Um dos projetos mais recentes de Montes no cinema é "Uma Família Feliz", thriller psicológico que esteve recentemente na Mostra Competitiva de Longas-Metragens Brasileiros do 51º Festival de Cinema de Gramado e, na noite da última quarta-feira, dia 25 de outubro, foi exibido na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O autor assina o roteiro original do longa e também faz sua estreia como diretor-assistente. Os produtores são René Sampaio e Juliana Funaro, da Barry Company, e o diretor é José Eduardo Belmonte. O filme é coproduzido pela Globo Filmes e pelo Telecine, com distribuição da Pandora Filmes. 

Na trama, Grazi Massafera é Eva, uma mulher acusada pela sociedade de ser a principal suspeita dos estranhos acontecimentos que envolvem suas duas filhas gêmeas e seu filho recém-nascido. Para provar sua inocência e ter seu marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), assim como sua "família feliz" de volta, ela começa a investigar a situação. 

"Comecei a pensar na história de 'Uma Família Feliz' há mais de oito anos e me perguntei se seria um filme, um livro ou uma série. Na época, estava começando a trabalhar com audiovisual, mas não sabia a resposta. Um tempo depois, apresentei a ideia – que ainda era só uma ideia – para o José Eduardo Belmonte. Ele gostou muito e, depois de alguns meses, me convidou para fazermos um filme", relembrou. "O fato de ser um filme é muito bom, porque a premissa é sobre uma família aparentemente perfeita e feliz. Uma mulher linda, bem resolvida, talentosa e inteligente; um marido perfeito e parceiro; duas filhas lindas; um condomínio protegido e seguro; vizinhos simpáticos. Mas, conforme a história vai avançando, você entende que não tem nada de perfeição ali. Existe uma vigilância, uma pressão social e um machismo estrutural – tudo isso vai aparecendo de maneira sutil e crescente. Essa plasticidade é muito visual, por isso combina com o cinema", analisou. "Se fosse um livro, abordaria outros elementos da história. Mais da psicologia da personagem, a cabeça dela. Coisas que, para a cena, temos que transformar em imagem", completou. 

Montes também atuou como diretor-assistente de Belmonte, em um trabalho que ele definiu como de absoluta parceria: "Quem estava no set era o diretor-assistente, não o roteirista. Quando falei para o Belmonte que queria começar a dirigir, pedi para estar ao lado dele, acompanhando todo o processo, e ele logo topou – e foi muito generoso. Fomos encontrando essa dinâmica. Participei da pré-produção, dos ensaios, estive no set e também na pós-produção. Às vezes, no set, eu mesmo sugeria mexer no roteiro. De maneira nenhuma fiquei com o texto do lado, falando que tinha que fazer o que estava escrito. Ao longo do processo, fomos encontrando soluções através desse diálogo meu com o Belmonte. É necessariamente um processo coletivo, e isso é muito legal".  

Traços brasileiros e simbologias universais

"Uma Família Feliz" tem traços tipicamente brasileiros, mas também simbologias universais. "Isso é algo que eu faço desde os livros. Eu, antes de ser um autor de livros e um autor e diretor-assistente de filmes e séries, sou espectador e leitor. Comecei lendo livros pelos clássicos internacionais – Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, Sidney Sheldon – e assistindo filmes de fora, como 'Colecionador de Ossos', 'Seven', os filmes do Hitchcock – e me perguntava onde estava esse gênero no Brasil. Tanto na literatura quanto no cinema e na televisão. O que venho fazendo – e pretendo continuar fazer – é contar histórias que sejam de gênero. É suspense psicológico, sem a menor vergonha de ser de gênero – com viradas, surpresas, finais surpreendentes e impactantes, cenas fortes e todos esses elementos – mas trazendo elementos brasileiros. Daí, tem muito de Nelson Rodrigues, dessa aparente classe média-alta perfeita que varre seus problemas para debaixo do tapete", detalhou Montes. 

"Quando comecei a fazer literatura, me diziam que o leitor brasileiro não gostava de ver histórias policiais no Brasil. Tem esse imaginário de que história policial só funciona em Londres, Nova York. Justamente por ter muita violência no Brasil, em teoria as pessoas aqui não queriam ler sobre isso. Mas eu acho errado – sempre achei e continuo achando. Por isso que faço o que eu faço. Quando os meus livros saíram e deram certo, entendi que dava para ir para a televisão e, agora, para o cinema também", complementou. 

O próximo passo do autor nesse meio é um trabalho próprio como diretor de cinema. "Já estou escrevendo o roteiro. Mas sempre gosto de escrever com alguém – para cinema e TV é importante ter outros olhares. Mesmo na literatura, tenho uma editora em quem confio totalmente e dialogamos muito. Não acredito no autor encastelado, escrevendo sozinho. Gosto da troca. Mesmo que eventualmente eu escreva o roteiro e dirija, esse roteiro vai ter o olhar de outras pessoas", finalizou. 

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