Um novo conceito de audiovisual brasileiro para uma nova indústria

*Mauro Garcia é presidente executivo da Bravi.

O Governo Federal lançou nesta última semana o plano da Nova Indústria Brasil. Fruto de grupos de trabalho do Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial.

Vários setores da indústria tal como ainda concebemos, como a indústria do "chão de fábrica" foram contempladas no plano anunciado, mas a indústria do entretenimento, em especial a indústria do audiovisual, não figura entre as áreas de investimento. Em todo o mundo a contemporaneidade da indústria não abre mão do audiovisual, da economia criativa e do entretenimento.

Por muitas vezes artigos, publicações, estudos, gráficos demonstraram o vigor e o "soft power" do audiovisual, gerador de emprego e renda. A vinculação minimalista do audiovisual à cultura parece não abrir lugar a uma visão industrial. Audiovisual como bem intangível, imaterial? Discordo peremptoriamente. Nada mais tangível e que se materializa em cada dispositivo, cada tela, que provoca nossos sentidos. Histórias que se materializam em nossas memórias, emoções, significados neste admirável mundo novo digital. O audiovisual está mais que nunca associado a uma chamada quarta revolução industrial que poderia ser resumida em um único conceito: a conectividade. E por estar assim conectado o audiovisual é sinônimo de inovação. Inovação em todos os seus pilares. Mas façamos antes uma brevíssima digressão pelas revoluções industriais da "idade contemporânea".

Podemos entender as revoluções industriais como processos de mudanças "revolucionárias" na forma de produzir, nas tecnologias utilizadas e na relação entre sociedade e a externalidade do ambiente.

A então Quarta Revolução Industrial é resultado do processo evolutivo das demais revoluções industriais que as sociedades humanas experimentaram nas últimas décadas desde o século 18. A indústria é impulsionada e transformada pelas novas tecnologias empregadas na produção gestadas pelo conhecimento humano acumulado historicamente.

Essas revoluções impactam não somente nas tecnologias e modelos de gestão que são utilizadas na produção industrial.

A Primeira Revolução Industrial foi caracterizada pela mecanização dos processos marcada pela invenção do tear mecânico. Assim, trabalhadores passaram a exercer tarefas específicas, departamentalizadas e não mais envolvidos em todo o processo produtivo.

Em meados do século 19, inicialmente na Inglaterra, a eletricidade protagonizou a origem da linha de produção numa Indústria 2.0.

Operações sincronizadas em linha de montagem possibilitaram a produção em massa com trabalhadores extremamente especializados, realizando tarefas repetitivas no chamado "chão de fábrica".

A indústria 3.0 surge a partir do advento da eletrônica e é conhecida como a Revolução Técnico-Científica.

Nessa nova fase muitas máquinas evoluíram e outras novas foram desenvolvidas a partir de uma automatização da produção com robôs envolvidos no então processo produtivo.

O desenvolvimento de uma economia agora com base em "alta tecnologia".

A relação do trabalho muda mais uma vez, já que em algumas funções, humanos podem ser substituídos por máquinas.

A Quarta Revolução Industrial é o processo pelo qual a sociedade e as indústrias estão passando no momento presente.

Ela é responsável por nos direcionar à Indústria 4.0, que pode ser resumida em uma palavra: conectividade.

Essa convergência digital leva a grandes mudanças nos modos de produção e na maneira de se pensar a produção e a organização das indústrias. Porém, as inovações trazem desafios, antes não imaginados, como os investimentos em equipamentos e o desenvolvimento de novas competências por parte dos trabalhadores, exigindo capacitação permanente e atualizada.

Voltando ao audiovisual. Suas características de multiplicidade, acessibilidade e portabilidade, fazem do audiovisual uma produção industrial inovadora e disruptiva. Múltiplas características de formatos, gêneros dramáticos e narrativos, de telas, de modelos de negócios. Um novo e sofisticado ecossistema de distribuição de obras audiovisuais que podem estar ora em um "cinekombi" em praça pública ou em um aparelho celular ou na "nuvem".

O audiovisual da publicidade e tutorial dos produtos de outros setores industriais, da educação, do treinamento corporativo, do motivacional, do entretenimento e mais e mais. Acessível e inclusivo porque pode ser ofertado em linguagem de sinais, em audiodescrição, com legendas, em vários idiomas então dublados e de extrema portabilidade. Que outro segmento industrial é tão múltiplo e acessível?

Do ponto de vista industrial, coletivo em todo o processo produtivo. Quais os pontos e gargalos do audiovisual? – os mesmos dos outros setores: infraestrutura, linhas de crédito, internacionalização, digitalização e preservação, capacitação, questões tributárias e tarifárias, e tanto mais e mais.

O novo Conselho Superior de Cinema, recém instalado com composição interministerial, tem a missão de se debruçar sobre as dimensões do audiovisual, seja na dimensão econômica, social e simbólica, em sua melhor abrangência interdisciplinar e interfacetada. Agora distantes da primeira revolução industrial a mais valia recai sobre a propriedade intelectual, uma sofisticada evolução das patentes do maquinário. Nada mais audiovisual que a nova indústria. Nada mais industrial que o audiovisual.

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