Porta dos Fundos acompanha de perto trabalho feito por suas divisões no México e na Polônia

A internacionalização do Porta dos Fundos foi tema de painel nesta quinta, 13, no RioMarket, área de negócios do Festival do Rio. No talk, estiveram presentes Rafael Fortes, VP de Produção e Conteúdo; Gregório Duvivier e João Vicente de Castro, sócios-fundadores; Maíra Maranhão, Gerente de Conteúdo; e Ana Gondolo, Gerente de Operações, que falaram principalmente sobre as empreitadas do grupo no México e na Polônia. 

A primeira experiência internacional do Porta foi com o Backdoor, braço mexicano, que após três anos de trabalho, soma mais de 16 milhões de seguidores. O projeto lá é independente – são atores, produtores e diretores locais – mas foi construído de forma muito próxima do Porta no Brasil. O próprio Duvivier, por exemplo, foi até o país para promover workshops e fazer a seleção de equipe, em um processo de muita troca, que envolveu dinâmicas e testes de elenco. Na Polônia, por sua vez, o Backdoor é mais independente, mas também precisa passar por um crivo final da equipe brasileira. No início, o time de lá recebeu um playbook, para entender o passo a passo para essa criação, entendendo como fazer essa adaptação da melhor maneira. O projeto da Polônia segue o modelo de licenciamento e se dá de forma sazonal. "A possibilidade de expandir para a Polônia surgiu em meio à pandemia e foi bastante complexo. Lá, 70% das pessoas ainda assistem mais TV do que canais digitais, então tínhamos que chegar por esse caminho. Teve esse momento de apropriação do que poderíamos fazer sem deixar nosso DNA pra trás. No México é diferente, porque é um espelho do que fazemos aqui", contou Maíra. 

"O humor do México é diferente do nosso aqui. Recebemos esse feedback inclusive deles, que afirmam que é diferente mesmo. E nós começamos o Porta no Brasil justamente num cenário em que o humor era muito diferente. Aparecemos com outro tom, outro jeito de fazer. Parte do desafio no trabalho no México era tentar colocar um pouco dessa nossa cultura lá, sem perder a cultura local. É necessário um trabalho muito forte de conexão para fazer funcionar num lugar onde você não vive. É difícil, mas vem dando certo há três anos", pontuou João Vicente. 

"Lá, a produção é contínua, e vai crescendo junto com o Porta. No Brasil, testamos novos formatos e, depois de um tempo, testamos lá. Hoje, temos no México uma sala de roteiristas argentinos e mexicanos, a fim de olhar para a América Latina sem focar tanto na cultura mexicana", acrescentou Ana. 

"Nós crescemos consumindo conteúdos latinos, por isso era um sonho antigo ter o público de lá nos assistindo. Queremos fazer o Brasil voltar a exportar conteúdo – deixamos de fazer isso por falta de política cultural. Temos que fazer, isto é, é soft power, espalhar nossa cultura", defendeu Duviviver. 

Um dos cases de maior sucesso nesse trabalho de internacionalização do Porta é "Harina" – inicialmente uma esquete do Porta dos Fundos no Brasil, que ganhou uma adaptação como esquete no México, onde acumulou mais de 60 milhões de visualizações, e se desdobrou numa série, em uma ação inédita do Porta. O produto está há 30 semanas no Top 10 da Amazon Prime Video no México, também é exibido na TV e já tem uma segunda temporada engatilhada. 

Produção para além da comédia 

Na apresentação, o grupo também falou sobre a expansão do Porta nos últimos anos. O coletivo de humor que começou trabalhando com as esquetes para o YouTube hoje tem, ali dentro, um amplo leque de conteúdos de branded content, reality show e segue com as esquetes tradicionais. Por fora, ainda produz podcasts e, por meio do Porta Estúdio, diversos outros programas para TV e streaming, como o "Greg News", para a HBO; o "Que História é Essa, Porchat?", para o GNT, e séries como "As Seguidoras", para o Paramount+, e a docussérie "Coração Suburbano", com Rafael Portugal, para a mesma plataforma. 

"Crescemos de maneira 360. Entendemos, já há algum tempo, que o YouTube é bacana e parte da gente, mas que podíamos muito mais do que isso. A internacionalização vem daí, assim como os trabalhos de produção. Com o Porta Estúdio, não temos obrigação de fazer comédia. Agora, por exemplo, estamos produzindo uma série sobre 'O Pasquim'. Eu sempre tive vontade de fazer coisas que não fossem comédia dentro do Porta e, hoje em dia, estamos conseguindo. O momento é de experimentar e navegar para outros lugares. Não nos limitamos, podemos crescer para qualquer canto. Sem esquecer do nosso começo, com as esquetes, mas também se diversificando. O mercado audiovisual está em constante crescimento e estamos preparados para pegar esse bonde antes que ele comece a andar", afirmou João Vicente.

"Nesse sentido, buscamos sempre trazer talentos para perto. Somas pessoas que não necessariamente tenham o nosso DNA, mas algo que tenha a ver com a gente. Gosto de trazer quem não é da comédia, que faz um trabalho legal na internet, por exemplo. Pra mim, o nosso segredo é se cercar sempre de talentos. E entender que não sabemos tudo, assumir esse lugar. Nunca nos sentimos no topo", completou. 

Preocupação com a diversidade 

O Porta é um projeto de um grupo de homens e por isso foi, durante muito tempo, um conteúdo mais voltado ao público masculino. Com o passar dos anos, mais mulheres foram contratadas, assim como pessoas que antes não tinham nenhuma representatividade lá dentro – negros e nordestinos, por exemplo. "O nossa público cresceu no Nordeste quando contratamos roteiristas da região. Assim como mais mulheres começaram a assistir o Porta quando contratamos mais mulheres roteiristas. Mesmo que o público não saiba, isto é, não é uma movimentação consciente, os pensamentos e ideias daquelas pessoas encontram eco na audiência. Ficou muito provado como a diversidade é importante. Tem a questão social, claro, e ainda amplia seu alcance", disse Duvivier. "Muitas coisas não estão no nosso universo mas são importantes de serem ditas. Quanto mais diversa a nossa sala de redação, mais diverso será o público com quem falamos", concluiu João Vicente. 

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