A transmissão de grandes eventos pela internet é uma realidade – especialmente durante e no pós-pandemia, elas se tornaram ainda mais frequentes e ultrapassaram setores que já traziam essas exibições em seu core business, como o de mídia e entretenimento, e chegaram também a áreas como saúde e educação. A questão, hoje, é como seria possível garantir uma audiência de milhões de telespectadores – que antes só era possível por meio da TV aberta – com volume e qualidade. "Não é tão simples. Não basta montar uma infraestrutura com servidor ou contratar um datacenter com grande capacidade nos Estados Unidos ou na Europa, por exemplo", introduziu Antonio M. Moreiras, gerente da NIC.br, durante painel no SET Expo 2022 nesta quarta, 24. A resposta, no caso, passa pelas CDNs. "As redes de distribuição de conteúdo são importantes para atingir capilaridade e evitar latência", apontou.
Moreiras elencou quais seriam as questões a serem trabalhadas a fim de garantir qualidade nessas transmissões de grandes eventos pela internet: múltiplas conexões, múltiplos pontos de presença, capilaridade, menos intermediários, menor latência e mais largura de banda. E no que diz respeito tanto às empresas quanto para as CDNs, isto é, as redes de distribuição contratadas, ele ainda mencionou: ser um sistema autônomo, presença no Brasil (em múltiplos lugares), participar de múltiplos IXs/PTTs (pontos de troca de tráfego) no Brasil e estar presente nas grandes operadoras.
Rogerio Mariano, global head, network edge strategy da Azion, reforçou os benefícios da CDN, citando, por exemplo, melhorar a velocidade de carregamento de uma página web, lidar com cargas de alto tráfego e otimizar a experiência do usuário, reduzindo tempo de acesso e aumentando a velocidade, por exemplo, entre outros pontos. "No fim das contas, melhorar a experiência do usuário é o principal benefício. Esse é o objetivo final", argumentou. "As CDNs evoluíram ao longo do tempo. Não é algo novo; Está no mercado há muito tempo. Mas à medida em que nos tornamos mais conectados e passamos a consumir cada vez mais conteúdo online, a CDN foi se afirmando como um arcabouço para permitir que isso aconteça. Hoje, empresas de publicidade, mídia, audiovisual, e-commerce, ensino, governo, IOT e experiências imersivas, entre outras, usam CDN", explicou.
Em sua fala, Mariano ainda mapeou os tipos de CDN existentes, em uma divisão que passa por CDNs comerciais (como Azion, Akamai, Cloudflare), CDNs privadas (como Globo e Google), CDNs híbridas (bastante comuns atualmente no setor de streaming de mídia, que depende de várias CDNs ou justamente dessas CDNs híbridas, que combinam as comerciais e as privadas; Entre os exemplos, TikTok, Microsoft e Apple), Open CDN (iniciativa para criar condições e atratividade para que as principais CDNs estejam presentes em outras localidades) e API CDN (que ficam embaixo de um consórcio chamado de streaming video tecnology alliance, como a Disney).
A experiência Globo
Por conta de seu histórico, volume (cinco regionais, 120 afiliadas) e padrão de qualidade, a Globo foi uma das empresas que sentiram a necessidade da criação de uma CDN própria. Nos meios digitais, o grupo de mídia exibe tanto conteúdos sob demanda quanto ao vivo, o que evidencia ainda mais essa demanda. Além disso, nos últimos anos a emissora viu surgir o desafio do "efeito rajada" – caracterizado por um alto volume de acessos simultâneos para assistir a um conteúdo ao vivo no Globoplay quando o programa em questão acaba a exibição na TV aberta e passa pro streaming. O fenômeno foi percebido especialmente em casos como o "Big Brother Brasil", onde muitas vezes as provas começam no ao vivo, na TV aberta, e terminam no Globoplay.
"A forma de tratar tudo isso é uma fórmula, uma soma de inteligência da CDN somada à capilaridade. Na parte de inteligência, são vários micro-serviços trabalhando em conjunto, tanto próprios quanto de mercado; decisão das rotas, entendendo qual CDN vai atender aquele usuário; predições sobre o tráfego, que conseguem prever o que virá no próximo segundo; e, em último caso, a priorização de funcionalidades, deixando uma delas 'adormecida' em detrimento de outra que está sendo mais requisitada naquele momento", disse Elisangela Bottino, product owner da Infra de CDN da Globo. "A capilaridade também é muito importante. Temos um servidor próprio, desenvolvido internamente e chamado de GCA – Globo Cache Appliance. À medida em que fomos entrando em operadoras menores, analisamos questões de custo e desenvolvemos também tamanhos diferenciados e mais reduzidos do GCA", completou.
A CDN da Globo evoluiu ao longo dos anos e, hoje, abrange 100% das capitais do Brasil, conta com 20 PTTs para conexões PNI e ainda tem presença internacional. "Essa infra permite mais de 100 canais ao vivo, entre afiliadas, canais abertos e fechados; mais de 10 milhões de mídias de VoD; 40% de melhora no buffer ratio e redução de 15% do join time. Ou seja, solucionamos nossas demandas de volume e de qualidade", concluiu Elisangela.
Google Cloud e a Multi-CDN
Erike Souza é gerente de tecnologia do Google Cloud e contou que a empresa aposta em multi CDN para alcançar escala e atingir propósito. No caso, há a Cloud CDN, focada para web, e a Media CDN, para streaming e auto-volume. "São dois modelos, que podem inclusive serem usados juntos", disse.
Souza trouxe o dado de que 44% das pessoas dizem que o buffering vídeo (quando o software baixa certa quantidade de dados antes de começar a reproduzir o vídeo) é o aspecto mais frustrante da experiência de consumo de vídeo online. "Os consumidores esperam experiências de alta qualidade, especialmente os mais jovens", observou. "A Media CDN tem esse propósito, de sair dessa experiência de vídeo ruim e otimizá-la".
As diferentes aplicações e o uso de CDN
"Na perspectiva de CDN como ponto de conexão, qualquer aplicação pode usar – mas isso não significa que todas as aplicações que forem colocadas ali vão tirar benefícios da CDN. Mas é possível testar. É um processo relativamente rápido", avaliou Souza. "Um exemplo palpável é o setor de educação. Antes da pandemia, havia pouco produto educacional em cima de CDN, mas diante da necessidade, o conteúdo migrou para a CDN de forma rápida, em um período de tempo bem curto", pontuou Mariano.
"O conteúdo de streaming tem um ganho muito grande com a CDN, é um efeito mágico de multiplicador de banda. De uma forma geral, as CDNs hoje aliviam toda a estrutura de telecom, principalmente nesses conteúdos de streaming, gerando economia também", finalizou Moreiras.