Produtores não se sentem representados no Conselho Superior de Cinema

A nova composição do Conselho Superior de Cinema (CSC), indicada nesta semana em decreto do presidente Jair Bolsonaro, não agradou o setor de produção audiovisual independente. Em carta divulgada nesta sexta, 25, diversas entidades que representam o setor apontam um conflito de interesses os indicados e as funções que devem exercer. As entidades acusam a indicação de representantes de empresas estrangeiras, de associações que defendem os interesses privados dessas empresas no Brasil, diretores e criadores que trabalham como contratados por essas empresas, além de representantes de emissoras de TV. Segundo as associações não há dentre os indicados qualquer representante das entidades do setor de produção audiovisual brasileira independente. "É como ter como membro do Conselho do Banco do Brasil, e com direito a voto, um executivo do Citibank. Ou ter no Conselho da Petrobras, um executivo da British Petroleum", apontam no documento – veja a carta na íntegra.

De fato, as entidades ligadas à produção independente de cinema e TV sempre teve grande representatividade no CSC. Na atual composição, embora hajam produtores, não há ninguém ligado às associações que representam o setor. O CSC, vale lembrar, tem a função de definir a política nacional do cinema, aprovar as diretrizes da indústria cinematográfica e audiovisual, e estimular a presença de conteúdo nacional nos vários segmentos.

Entre titulares e suplentes, o CSC tem a seguinte composição.

Representantes do audiovisual

* Daniela Busoli, titular, e Paulo Rogério Cursino, suplente.
Busoli é produtora independente, fundadora da produtora Formata Produções e Conteúdo, com diversas produções para canais de TV, streaming e para cinema. Embora seja associada à Bravi, não faz parte do conselho da associação. Cursino é roteirista e diretor, tendo trabalhado em longas para theatrical e para streaming.

* Mônica Pimentel, titular; e Mauro Cesar Alves Ventura, suplente.
Pimentel é vice-presidente de conteúdo da Discovery no Brasil. Ventura é diretor e produtor ligado à família Bolsonaro e seguidor de Olavo de Carvalho.

* Márcio Alcaro Fraccaroli, titular; e Cesar Pereira da Silva, suplente.
Fraccaroli é distribuidor independente, proprietário da Paris Filmes. Pereira da Silva é vice-presidente e diretor geral da distribuidora Paramount Pictures no Brasil.

* Marcos Rocha Magalhães Barros, titular; e Ricardo Difini Leite, suplente.
Magalhães Barros é do conselho de administração da rede exibidora cinematográfica Cinesystem. Difini Leite é fundador da exibidora cinematográfica GNC Cinemas.

* Hiran Silveira, titular; e Cristiano Reis Lobato Flores, suplente.
Silveira é diretor de governança da TV Record. Lobato Flores é diretor geral da Abert, associação que representa a radiodifusão.

Representantes da sociedade

* Roberto Drago Pelosi Jucá, titular; e Pedro Augusto Correa Guimarães, suplente.
Jucá é advogado na DPJ Law. Guimarães é presidente da Apresenta Rio, entidade que representa empresas promotoras e produtoras de eventos no Rio de Janeiro.

* Rafael Lazarini dos Santos, titular; e Thiago Wanderley de Freitas, suplente.
Lazarini é o fundador do evento Rio2C. Freitas é produtor de games, membro do conselho da Abragames.

* Marcos Alberto Santanna Bitelli, titular; e Ana Paula Martins Bialer, suplente.
Bitelli é sócio fundador da Bitelli Advogados. Bialer é sócia fundadora do escritório Bialer & Falsetti Associados.

No documento divulgado nesta sexta, as entidades dizem que o decreto desrespeita o espírito original do CSC, "cujo norte seria a criação de uma
cinematografia soberana". Além disso, afirmam que o Executivo brasileiro reforça as demais posturas "propositadamente desarticuladoras em relação ao fomento e à regulação do audiovisual, materializados na atuação desvirtuada da Ancine e do Fundo Setorial do Audiovisual, em cuja defesa temos atuado levando questões ao poder Legislativo e Judiciário com persistência da qual não abriremos mão".

A carta é assinada por Abraci/RJ– Associação Brasileira de Cineastas do Rio De Janeiro; Apaci – Associação Paulista de Cineastas; API – Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro; APTC / RS – Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos do Rio Grande do Sul; Colegiado Setorial do Audiovisual do Rio Grande do Sul; Coletivo FilmaRio; Conne – Conexa?o Audiovisual Centro Oeste, Norte e Nordeste; Fames – Fórum Audiovisual Minas Gerais, Espírito Santo e estados do Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; Santacine – Sindicato da Indústria Audiovisual de Santa Catarina; Siav – Sindicato da Indústria Audiovisual do Rio Grande do Sul; Sintracine – Sindicato dos Trabalhadores de Cinema e Audiovisual de Santa Catarina.

1 COMENTÁRIO

  1. Nem poderíamos! Aí estão os tubarões das majors, o pessoal das programadoras e das empresas de VoD, o representante da RECORD…

    É dar ao lobo a guarda das ovelhas! O galinheiro à raposa!

    É a composição de Conselho mais afastada da produção independente desde a sua criação. A mais alinhada ao interesse internacional. Como garantir apoio à produção independente, à pluralidade e à diversidade?

    Da pra notar ZERO compromisso com a regionalização, com a diversidade.

    Desde quando Bitelli é representante da sociedade? Ele representa a ABTA e as programadoras internacionais!

    Deveria ter uma CHAMADA PÚBLICA com critérios de participação pré-definidos, ampla concorrência e peso para estimular ação afirmativa.

    Colocar os nomes para votação online de cadastrados entre profissionais com DRT. Isso para representar os especialistas é representante do audiovisual. Lista de inscritos com curriculum!

    Para os representantes da sociedade civil deveria ser aberto inscrição para indicados por listas com mais de 2 mil assinaturas (poderia ser online) em pelo menos 3 estados de duas regiões, com mínimo de 500 assinaturas por estado! E colocar para voto popular de cidadão com título. Votação online com cadastro.

    Vergonha alheia!

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