Marianna Souza, presidente da APRO e gerente executiva da FilmBrazil, é a nova convidada do "Café com Pixel", programa do canal TELA VIVA no YouTube coproduzido com o escritório CQSFV Advogados. A conversa abordou os 50 anos da APRO (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), celebrados agora em setembro. "Apesar da APRO ter nascido com DNA de publicidade, hoje atuamos também com o mercado de entretenimento. É impossível não falar disso, sobretudo porque o conteúdo está se cruzando – as marcas estão investindo muito nisso, e a linha entre o que é publicidade e o que é conteúdo está muito tênue. É um universo cada vez mais integrado e próximo", observou.
A executiva explicou que hoje, a APRO atua em três grandes frentes. A primeira delas é voltada para a capacitação e qualificação técnica das produtoras. "Acreditamos que a formação é a base para garantir a competitividade das nossas empresas". Outro braço é voltado para a parte internacional, com destaque para a parceria que a APRO mantém com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). "Temos o projeto FilmBrazil com eles desde 2005, que tem como objetivo promover o Brasil como polo de produção no mercado internacional – e todo o potencial criativo do nosso mercado, não só das nossas produtoras". E por fim, um braço voltado pra defesa dos interesses dos associados e do mercado como um todo, que envolve um trabalho de advocacy em Brasília, junto com os poderes legislativo e executivo.
Outra pauta inerente à associação é a diversidade e a inclusão. "Tenho muito orgulho desse trabalho dentro da APRO, e posso dizer que fomos pioneiros. Em 2005, a APRO já apoiava o CRIAR, quando ainda não se falava em inclusão e jovens periféricos. Já acreditávamos que, como associação, precisávamos prestar algum serviço para a nossa sociedade. Devolver para o mercado todos os benefícios que a gente conseguia aproveitar. Sempre tivemos isso no nosso DNA", contou Marianna. "Em 2021, assinamos um acordo de cooperação técnica com a ONU Mulheres, dentro do programa Aliança sem Estereótipos, que visa estabelecer KPIs para as grandes marcas que estão debaixo do guarda-chuva da ONU. São metas de inclusão desses talentos dentro de toda a cadeia produtiva. Nós sentíamos que, no discurso, os clientes falavam sobre inclusão, destacavam como os comerciais traziam diversidade. Mas, dentro das equipes, isso não se refletia, pois elas ainda eram majoritariamente compostas por homens brancos e héteros. Agora, estamos nessa primeira rodada de acompanhamento e monitoramento desses KPIs, entendendo se eles foram cumpridos, como foram, se alguém precisa de ajuda para cumpri-los. A ONU de fato acompanha a implementação dos pactos celebrados junto deles".
Ainda dentro dessa agenda, Marianna é uma das embaixadoras da Free The Work no Brasil – plataforma de promoção dos talentos sub-representados no mundo inteiro que foi criada nos EUA e que, hoje, tem membros ao redor do planeta.
Pautas regulatórias
A APRO está entre as 12 entidades fundadoras da FIBRAv – Frente da Indústria Independente Brasileira do Audiovisual, que nasceu especialmente para defender os interesses da produção independente diante da regulação do streaming. Juntas, as entidades estabeleceram pontos que julgam essenciais nos projetos de lei em tramitação. Entre eles, está a propriedade intelectual e patrimonial das obras para os produtores brasileiros que as realizam; investimento direto na produção de conteúdo brasileiro independente; criação da Condecine VoD, com recursos que serão destinados ao desenvolvimento de políticas públicas com mecanismos que promovam a valorização do patrimônio cultural brasileiro; descentralização dos recursos, com investimentos em todas as regiões do país, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo; e proeminência e cotas para conteúdos brasileiros.
Marianna destacou ainda o tratamento da publicidade nesses novos meios. "Hoje, temos necessidade de registro da publicidade nos outros meios de comunicação. Por isso, não faz sentido que não exista o mesmo tratamento, pensando principalmente na isonomia dos mercados existentes".
Diante dos desafios dessa regulação, ela analisou: "As cartas estão na mesa. Talvez tenha um momento em que a gente precise recuar em algum lugar. Mas todos esses pontos que levantamos são fundamentais. A questão da propriedade intelectual, por exemplo. Hoje, as produtoras que atuam no streaming viraram prestadoras de serviço. A tendência é que haja um crescimento cada vez maior dessas plataformas aqui dentro, por isso é tão importante olhar para esse lugar. É tentar chegar num meio do caminho que funcione para ambas as partes. No fim do dia, são essas produtoras que estão aqui fomentando, gerando emprego e recolhendo impostos".
Assista à entrevista na íntegra no canal da TELA VIVA no YouTube ou abaixo: